Documentos da NSA apontam Dilma Rousseff como alvo de espionagem
Papéis 'ultrassecretos' foram obtidos com
exclusividade pelo Fantástico.
Ministro diz que Brasil vai cobrar explicações formais dos Estados Unidos.
Documentos classificados como
ultrassecretos, que fazem parte de uma apresentação interna da Agência de
Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, obtidos com
exclusividade pelo Fantástico,
mostram a presidente Dilma Rousseff e o que seriam seus principais assessores
como alvo direto de espionagem da NSA. Um código indica isso. O presidente do
México, Enrique Peña Nieto, também foi um alvo, segundo o material (veja os documentos, publicados pelo site do
Fantástico na noite de segunda, 2).
A
revelação foi feita em reportagem exclusiva exibida no Fantástico deste
domingo, 1º (veja no vídeo acima). Passo a passo, a reportagem de Sônia Bridi e
Glenn Greenwald mostra como o maior sistema de espionagem do mundo está
de olho no Brasil e como a NSA consegue monitorar as comunicações no centro do
poder, em Brasília, inclusive da presidente Dilma
Rousseff.
O jornalista Glenn Greenwald
foi quem recebeu os papéis das mãos de Edward Snowden - o ex-analista da NSA
que deixou os EUA com documentos da agência com a intenção de divulgar o
sistema de espionagem americano no mundo.
Glenn afirmou que recebeu o documento na primeira semana de
junho, quando esteve com Snowden em Hong Kong. “Ele me deu esses documentos com
todos os outros documentos no pacote original.”
O pacote tinha milhares de documento
secretos. Glenn analisou esses papéis com Snowden durante uma semana em Hong
Kong. Pouco depois, Snowden fugiu para a Rússia, onde passou 38 dias na área de
trânsito do aeroporto de Moscou, até ter seu pedido de asilo aceito no país.
Durante
a produção, a reportagem conversou com Snowden por um programa de bate-papo
protegido contra espionagem. Escondido em algum ponto do território russo, ele
disse que por exigência do governo local não pode comentar o conteúdo dos
papéis, mas disse que acompanha a repercussão que os documentos estão tendo
pelo mundo, inclusive no Brasil.
Fantástico: como é que a gente
pode avaliar o documento e saber se foram operações que foram consumadas, e não
apenas projetos?
“Ficou muito claro, com esses
documentos, que a espionagem já foi feita, porque eles não estão discutindo
isso só como alguma coisa que eles estão planejando. Eles estão festejando o
sucesso da espionagem”, afirmou Glenn.
Os documentos mostram que foi
feita espionagem de comunicações da presidente Dilma com seus principais
assessores. Também é espionada a comunicação dos assessores entre eles e com
terceiros.
A
apresentação secreta se chama "filtragem inteligente de dados: estudo de
caso México e Brasil." Segundo a apresentação, o programa possibilita
encontrar, sempre que quiser, uma "agulha no palheiro."
O palheiro, no caso, é o volume
imenso de dados a que a espionagem americana tem acesso todos os dias,
espionando as redes de telefonia, internet, servidores de e-mail e redes
sociais. A agulha é quem eles escolherem.
No documento, de junho de 2012,
são dois alvos: o presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato
líder nas pesquisas para a presidência, e a presidente do Brasil, Dilma
Rousseff.
Como funciona
Selecionado o alvo, são
monitorados os números de telefone, os e-mails e o IP (a identificação do
computador). É feito o mesmo para os interlocutores escolhidos - no caso,
assessores.
O que eles chamam de um “pulo” é
toda a comunicação entre o alvo e os assessores. Um “pulo e meio” é quando os
assessores conversam entre eles. “Dois pulos” é quando eles conversam com
outras pessoas.
Investigação
de Peña Nieto
Para espionar o então candidato mexicano Peña Nieto, o serviço de segurança
internacional da NSA para América Latina - fez uma ação intensiva. Para isso,
usou dois programas - um deles é chamado "Mainway" e serve para
coletar o grande volume de informações que passa pelas redes de comunicação.
As mensagens de texto por
telefone do candidato também foram interceptadas, usando o programa
"Association", que pega as informações que circulam nas redes
sociais. Daí, as mensagens vão para outro filtro - o "Dishfire" - que
busca por determinadas palavras-chave.
Sob
o título "mensagens interessantes", está a prova de que o conteúdo
das mensagens foi acessado. Dois trechos são citados. Num deles, Peña Nieto
conta quem seriam alguns de seus ministros - que só tomariam posse seis meses
depois da eleição.
Investigação da
presidente Dilma
Na sequência, vem a explicação
de como foi feita a espionagem da presidente Dilma. "Goal" é o
objetivo da operação: "melhorar a compreensão dos métodos de comunicação e
dos interlocutores da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e seus principais
assessores".
O que eles chamam de
"sementes" são os endereços eletrônicos e números de telefones
monitorados.
Um dos programa usados pela
NSA é chamado de "DNI selectors" - que segundo outro documento vazado
por Snowden, captura tudo o que o usuário faz na internet, incluindo o conteúdo
de e-mails e sites visitados.
No documento, não há exemplos
de mensagens ou ligações entre a presidente e seus ministros, como aconteceu
quando o agora presidente do México foi mencionado. Mas na última página o
documento diz que o método de espionagem usado é "uma filtragem simples e
eficiente que permite obter dados que não são disponíveis de outra forma. E que
pode ser repetido." Se pode ser repetido, tudo indica que foi levado a
cabo.
Conclui, ainda, dizendo que a
união de dois setores da NSA teve sucesso contra alvos de alto escalão: Brasil
e México. Alvos importantes, que sabem do perigo de espionagem e protegem sua
comunicação.
Comunicações de
brasileiros
No mês passado, uma reportagem
do jornal “O Globo”, mostrada também no Fantástico, revelou, com documentos
vazados por Snowden, que os EUA interceptam milhões de comunicações de
brasileiros.
Na ocasião, o embaixador dos
EUA no Brasil, Thomas Shannon, negou que e-mails e telefonemas de cidadãos
brasileiros estivessem sendo espionados. Admitiu apenas que eram acessados os
chamados metadados (o total de conexões, que passavam pelo Brasil).
Falta de clareza
Não está claro se a
interceptação das ligações da presidente Dilma foi feita apenas com acesso às
redes de comunicação, ou se houve participação de espiões em território
brasileiro.
Ainda em Hong Kong, quando se
encontrou com Glenn Greenwald, Edward Snowden comentou os documentos que envolvem
a espionagem à presidente Dilma.
Ele disse o seguinte: "a
tática do governo americano desde o 11 de setembro é dizer que tudo é
justificado pelo terrorismo, assustando o povo para que aceite essas medidas
como necessárias. Mas a maior parte da espionagem que eles fazem não tem nada a
ver com segurança nacional, é para obter vantagens injustas sobre outras nações
em suas indústrias e comércio em acordos econômicos".
No mês passado a revista
“Época” publicou com exclusividade um documento comprovando que a espionagem
americana é também comercial.
Trata-se de uma carta escrita
pelo atual embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em 2009, quando
ainda era subsecretário de estado.
Ele agradece à NSA pelas
informações repassadas à diplomacia americana antes da 5ª Cúpula das Américas -
um encontro entre os chefes de estado do continente para discutir assuntos
comerciais e diplomáticos da região.
Um terceiro documento
ultrassecreto enumera os desafios geopolíticos dos Estados Unidos para os anos
de 2014 a 2019. O surgimento do Brasil e da Turquia no cenário global é
classificado como risco para a estabilidade regional.
E o Brasil aparece de novo,
junto com outros países, como uma dúvida no cenário diplomático americano:
nosso país seria amigo, inimigo ou problema? Também são citados Egito, Índia,
Irã, Turquia, México.
Nesta semana, o jornal americano "Washington Post" publicou o
orçamento secreto dos serviços de espionagem americanos, o equivalente a R$ 126
bilhões.
Reação do
governo brasileiro
Neste domingo (1º), o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniu com a presidente Dilma Rousseff
para discutir a reação as novas revelações de espionagem do governo americano.
O governo brasileiro decidiu tomar três medidas: o Ministério das Relações
Exteriores vai chamar o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, para
que ele dê novos esclarecimentos, vai cobrar explicações formais do governo dos
Estados Unidos e vai ainda recorrer aos órgãos internacionais, como a ONU, para
discutir a violação de direitos de autoridades e cidadãos brasileiros.
“Se
forem comprovados esses fatos, nós estamos diante de uma situação que é
inadmissível, inaceitável, por que eles qualificam uma clara violência à
soberania do nosso país. O Brasil cumpre fielmente com suas obrigações e
gostaria que todos os seus parceiros também as cumprissem e respeitassem aquilo
que é muito caro para um país que é a sua soberania”, disse Cardozo.
O ministro esteve na semana
passada nos Estados Unidos, onde se reuniu com o vice-presidente, Joe Biden.
Ele levou a proposta de que as comunicações só sejam acessadas com autorização
da Justiça e no caso de investigações criminais. A proposta não foi aceita.
Procuradas,
as embaixadas dos Estados Unidos e do México não se manifestaram.
Comentário: Hoje em dia não conseguimos nem pensar com liberdade. Pode ser que alguém esteja lendo nossos pensamentos. Foi uma imensa falta de ética os americanos tentarem intervir na soberania do Brasil. Espero que nosso governo exiga esplicações e desculpas para os Estados Unidos.